28.2.05

Nós

Este já é velhote... só para recordar.

De mãos dadas, demos a volta ao Mundo.
Cruzámos fronteiras,
Atravessámos rios,
Passámos sinais vermelhos ao lado da passadeira.
De mãos dadas, de olhos postos,
Fomos um só.
E valíamos por mil.
***
A princípio estava tudo muito tremido...
Tu ainda não estavas recomposto do terramoto que,
Num repente, te tinha avassalado o coração,
E eu, ainda não tinha pousado, com medo
Que a terra me fugisse de debaixo dos pés...
Mas experimentámos dar as mãos...
E o resto aconteceu.
Tu recuperaste do terramoto,
E eu finalmente pousei...
Ao ver que o chão não fugia, arrisquei;
Pedi ingenuamente:
"Deixas-me amar-te?"
Ao que me respondeste com um sorriso de luar-de-prata........
Considerei um sim.
E amei-te.
Com o brilho de mil Sóis,
Com a força de mil Luas;
amei-te...
Até que, um dia, os Sóis e as Luas deixaram de brilhar
e de ter força.....
E nada era suficiente.
Podíamos dar as mãos com muita força,
Que já não aconteciam maravilhas.
Podíamos bater as asas com todo o entusiasmo,
Que já não levantávamos voo.
Foi a tua vez de me pedires:
"Ama-me..."
E de eu te responder com um sorriso de luar:
"Não consigo..."
E foi a última vez que te sorri.
*
(De mãos dadas, demos a volta ao Mundo.
Cruzámos fronteiras,
Atravessámos rios,
Passámos sinais vermelhos ao lado da passadeira.
De mãos dadas, de olhos postos,
Fomos um só.
E valíamos por mil.)

23.2.05

Decorei a tua boca num momento em que o vento e a noite andavam de mãos dadas e, desde então, a tua luz não me deixou - a não ser quando quiseste que a minha se apagasse. Desde então, os meus sonhos foram os teus sonhos e o meu percurso, o teu caminho. Desde então, a sombra que instalaste em mim prendeu-me aos dias de tal maneira que deixei de ansiar por metas onde não estivesses, deixei de me olhar para olhar apenas para onde me sorrisses, amar passou a fazer parte de mim mesmo todas as vezes que não o quis. Amo-te, sei-o agora, porque o meu coração não conhece outro nome senão o teu, porque o meu coração só responde à tua voz. Amo-te pelo sentido que dás a tudo, pelo que seria sem ti, pelos sorrisos que solto quando me obrigas a esquecer-me de mim, pelas lágrimas que afogo quando nos finjo menos eu. Amo-te, desde que vi as estrelas nos teus olhos sem que elas alguma vez tivessem lá estado, desde que as nossas mãos juntas nos fazem ver que não há tempo para mais nada - amar é urgente, sonhar é urgente, é urgente saber sorrir quando um sorriso não basta. Amo-te porque a minha alma pertence à tua, porque o meu peito não acalma nunca noutro abraço e sem a tua voz tudo é silêncio e ensurdece, amo-te porque estou destinada a ter sempre os teus braços como abrigo e o teu sorriso como luz, amo-te com a força de um beijo à chuva, de um segredo ao pôr-do-sol, amo-te porque a complexidade da palavra não chega para gritar ao Mundo, em desespero, a minha ânsia de te viver.
Amo-te, sei-o agora, porque nunca vou poder esquecer-te.
A minha vida foi o acolher-te com um sorriso. A tua, foi aquele olhar que nunca vi demasiado perto...

10.2.05

Não posso ignorar que os nossos caminhos se cruzaram uma vez, para sempre. Não sei esquecer todos os momentos, todos os sorrisos, todas as palavras que ficam sempre por dizer, como deixar partir uma parte significativa de tudo o que fomos, como apagar as lições (des)aprendidas nas tuas mãos?
Não é preciso esquecer, não é preciso matar um grande amor ainda que ele nos mate um pouco, afinal, "a maior solidão é a do ser que não ama"... Ou a do ser que, mesmo quando ama, está sozinho, mesmo quando rodeado de pessoas, se sente só. E eu sempre me senti só, contigo.
Por agora (talvez só por agora...), fico aqui, onde mesmo connosco tento não estar só, onde tento não matar um grande amor que me mata um pouco de vez em quando, sem o qual eu sei que morria de vez, outra vez, por dentro.

3.2.05

Ainda as lembranças de nós que me ladeiam os ombros num final de tarde tão ameno como outro qualquer, ainda os restos de ti que me aquecem o colo e me fazem sorrir, mesmo que um sorriso já não faça parte dos meus planos, não por agora. Não se a tua imagem de anjo me abandonou de vez, outra vez, pelo menos aparentemente. Não quando no meu rasto só se vêem pedaços de nós. Não vês que é suposto eu já não saber sorrir...? É suposto ter a minha Lua do meu lado, só, só ela me reconfortar, o normal seria não mais ver a tua mão estendida para mim, não mais acreditar que, às vezes, a vida ainda me corre ao sol... Os anjos já não existiam, não para mim, já não havia palavras que me servissem de prece nem olhos que me oferecessem sonhos, a tua luz já só fingia um ponto na escuridão.
E agora...? Que eu já sabia querer ser só e que os segredos que desfolhava já eram só meus...? E agora, que voltas como anjo que talvez nunca tenhas sido mas em que sempre acreditei? (se era a tua mão que via sempre - a mesma que me empurrava...) Que faço eu agora, que sei que os nossos caminhos se cruzaram uma vez, para sempre, que sei que tudo em meu redor respira o que resta de nós, que sei que a minha luz se apaga quando a tua não quer estar por perto...?
Eu fico, mais uma vez (talvez de vez...), sei que vou continuar a fingir aceitar o teu papel de anjo mal interpretado, a tua mão o tempo todo a estender-se depois de me empurrar, eu a tentar fugir da minha corrida constante para a desilusão e a fazer de conta que às vezes, só às vezes, a vida ainda me corre ao sol...