27.1.05

As ilusões não duram

Era o silêncio que me fazia esquecer de ti. O silêncio das palavras, das palavras escritas. O silêncio da memória, da apatia. Era o esconder-te dos outros como se negasse um passado, como se cegasse as recordações. Era o nunca falar de ti, o nunca pronunciar o teu nome.
Foi o silêncio que contive durante a nossa relação. Foi o facto de nunca ter contado aos meus amigos da tua existência, foi esse tempo de felicidade que fui contendo, que fui guardando na minha boca feita túmulo. Foi eu esperar que o nosso amor fosse sólido, que fosse inquebrantável e insuspeito. Foi essa ilusão de que iria ser perfeito, de que iria ser único que montou o meu silêncio num teatro sem palco.
Mas o silêncio não durou na tua boca, nem o silêncio nem a ilusão, e uma simples palavra tua despontou uma discórdia que ainda hoje julgava impossível. Uma simples palavra, uma simples faca. Uma adaga que desmontou todo o teu teatro, todo o cenário que montaste numa peça para eu ser o bôbo-das-cortes, o palhaço a que daria corpo e voz de protagonista. Mas eu soube guardar o silêncio na minha boca, guardar o público que necessitavas só para mim. E é nesse silêncio que eu guardo só para mim, nesse silêncio que nunca ousaste compreender, que te fará desvanecer e fundir com a bruma num dia vulgar, num dia tão banal quanto tu.

1 comentário:

ninguém disse...

palavras para quê...? poupo-te os elogios....