3.2.05

Ainda as lembranças de nós que me ladeiam os ombros num final de tarde tão ameno como outro qualquer, ainda os restos de ti que me aquecem o colo e me fazem sorrir, mesmo que um sorriso já não faça parte dos meus planos, não por agora. Não se a tua imagem de anjo me abandonou de vez, outra vez, pelo menos aparentemente. Não quando no meu rasto só se vêem pedaços de nós. Não vês que é suposto eu já não saber sorrir...? É suposto ter a minha Lua do meu lado, só, só ela me reconfortar, o normal seria não mais ver a tua mão estendida para mim, não mais acreditar que, às vezes, a vida ainda me corre ao sol... Os anjos já não existiam, não para mim, já não havia palavras que me servissem de prece nem olhos que me oferecessem sonhos, a tua luz já só fingia um ponto na escuridão.
E agora...? Que eu já sabia querer ser só e que os segredos que desfolhava já eram só meus...? E agora, que voltas como anjo que talvez nunca tenhas sido mas em que sempre acreditei? (se era a tua mão que via sempre - a mesma que me empurrava...) Que faço eu agora, que sei que os nossos caminhos se cruzaram uma vez, para sempre, que sei que tudo em meu redor respira o que resta de nós, que sei que a minha luz se apaga quando a tua não quer estar por perto...?
Eu fico, mais uma vez (talvez de vez...), sei que vou continuar a fingir aceitar o teu papel de anjo mal interpretado, a tua mão o tempo todo a estender-se depois de me empurrar, eu a tentar fugir da minha corrida constante para a desilusão e a fazer de conta que às vezes, só às vezes, a vida ainda me corre ao sol...

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