12.1.05

Outro dia que (não) termina com as minhas lágrimas, com esta quase cantiga que cada vez mais me afoga o peito. Não páro de tentar perceber, será que não vês que desespero por deixar, de vez, a existência, que anseio cada vez mais a noite, e não só aquelas que vêm no final dos dias, será que não percebes que a paz que me davas já não me sossega os gritos que solto sempre em vão? Eu caminho sempre mais para onde não possa sentir, eu tento esconder-me nas palavras mas também as palavras têm armadilhas, se eu pudesse, de vez, fechar as asas que já não me servem de nada...
Vejo agora que nunca me olhaste, no fundo, sempre fingiste ver-me e às minhas lágrimas, como me enganei enquanto esperava a tua mão... Espero agora o meu Deus que talvez venha a chegar, é irónico, sempre te pensei o meu anjo, afinal os anjos já não existem, não para mim.
Ninguém vê o final nos meus olhos, ninguém me ouve - não sei como, se grito por dentro o tempo todo!... Eu só espero silêncio, um silêncio qualquer que me venha calar, por fim, o lamento mas não te quero deixar só, não assim, por isso ouve-me, só desta vez (a última?) - leva-me daqui e apressa-me o tempo, faz de anjo por momentos e eu juro que acredito, se me estenderes a mão eu juro que a agarro, atira-me à cara uma paz qualquer, qualquer noite, mas depressa, antes que se me apaguem os dias, que não tenha mais espaço para a minha dor ou que a minha luz se acabe, de vez - não me queiras perder agora.

1 comentário:

Shinho disse...

"as palavras têm armadilhas"? Minha amiga, sempre pensei que a maior das armadilhas era mesmo a palavra.