4.10.04

A beleza das coisas

A beleza das coisas está profundamente gravada no colorido dos teus olhos.

A luz da vida quando nos incide sobre a pele, deita-se connosco, atravessa a razão, e vem pernoitar nos sonhos. Passeio sobre a água alisada pela maré que à minha frente sossobra. Ha uma luz azulada que faz reflexos na crista das ondas e anuncia a chegada da manhã. As gaivotas chegam, fazendo-me companhia, debicam frutos do mar onde uma onda deixou apenas umas gotas de saudade. Outras saudam-me com coreografias graciososas, como se dançassem para mim. Dá que pensar. As ondas marulham de mansinho, o som de um saxofone aparece enchendo de laranja a paisagem. O dia vai ser quente. Há um suspiro no ar que traz de volta o teu perfume. É uma guitarra a dedilhar melodias nos meus sentidos. Uma brincadeira de sonhos que se entrelaçam. Não escrevo palavras na areia mas as palavras ficam retidas nos sonhos e de lá não saiem. Ainda dá mais que pensar. Na estrada de pedra o meu rasto perde-se. O medo assalta-me. Sim, isso de já não me poderes seguir, de não poderes sonhar na mesma dimensão que eu sonho. Estendo-te uma passadeira de rosas brancas que só acaba aonde o mar se vai deitar. É uma estrada de fantasia onde podes perder o resto dos teus dias, como um convite para um passeio sem fim. Uma viagem pelo interior das coisas. É o que dá pensar em ti.

Por isso espreito pelos teus olhos.

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