2.11.05

Queria só dizer-te as canções nos teus olhos. Queria que soubesses as promessas no teu rosto, a luz permanente que te sai do olhar - apareceste com o repente de outro dia qualquer. Gostava que soubesses da tua presença em cada canto, em cada espaço que não me atrevia a procurar com o olhar, do brilho no teu sorriso quando os teus lábios se abrem com a simplicidade esculpida no rosto em redor. Queria contar-te as canções que se espalham na noite, cantar-te as palavras espelhadas no céu, tentar procurar-te sinónimos que se encaixem fielmente no teu ar - és muito mais do que as palavras te podem dizer.
Evaporaste o conceito de perfeição que atirei para lá da meta do impossível. Há palavras para a perfeição, muitas palavras - palavras demais... - e as palavras não chegam para ti. Para ti só o silêncio, aquele que se habitua aos dedos que se cruzam, que nos sai dos olhares que se tocam e que despeja, a cada segundo, a latitude dos meus sorrisos de ti - para ti só o tempo, que nos viaja os corpos pelas horas marcadas à velocidade da luz, só o vento, só o mar. E é em vão que procuro explicações para a tua presença e o meu desejo de que permaneças, com a comodidade de um dia qualquer, é por nada que, por cima do ombro, as palavras dizem menos do que devia ouvir e é por tudo que preciso de te contar. Ainda não são estas as palavras certas que talvez nunca sejam suficientes - para ti, só o silêncio... - mas aperta-me a urgência que tenho de te falar do teu olhar. É-me urgente contar-te o amor, a subtileza nos teus gestos, a implosão que causam os contornos do teu corpo, contar-te o quase que é imperceptível a sombra no relevo dos teus traços. É-me urgente o tempo que não chega para te absorver cada sorriso, cada olhar, cada momento que, sem aviso, nos prende a respiração, segredar-te cada rua onde me levas pela mão, perguntar-te tudo aquilo a que me saibas responder. Quero que saibas, preciso, e foi preciso esconder a parte de mim que procurava para te poder encontrar - deixava de procurar um milhão de vezes mais para te (re)encontrar as mãos, o teu ar, a leveza do teu ar, para te (re)voltar a ver a redundância no luar, para um milhão de vezes mais tropeçares no meu caminho... Procuro as palavras certas mas para ti só um olhar... Para ti, só o silêncio que nos habita os dedos que se cruzam e onde dardejam, invisíveis, as explicações e lições dos meus sorrisos por ti.