31.7.05

Acordar sem o teu nome nos meus ouvidos. O frio do céu cinzento traz-me de volta a minha mão no teu peito, as horas que perdemos a ver o tempo passar - e eu insisto nas histórias insípidas que se perdem por amor. Insisto nas linhas curvadas do meu rosto (eu não vou parar de sorrir...), insisto nos lábios que se tocavam em momentos menos mornos, nas linhas em que escrevo e onde o teu nome já não me sai dos dedos. E aposto agora nos dias, porque as noites já não são nossas nem se perdem no teu tom.
Não quero mais histórias de amor. Desisto das canções desesperadas, as melodias que faziam crer o elixir da vida nos teus olhos - eu precisei demais de ti. Eu amei-te demais, tanto quanto sei, não se ama o outro mais do que a nós próprios. O frio do céu cinzento traz-me o nosso tempo de volta e eu insisto, porque o tempo que tenho agora é todo meu e não dos finais felizes que já nos tinha escrito - dos finais felizes, nunca mais.
Porque eu esqueci-me das minhas mãos enquanto me agarrava às tuas, ignorei a minha alma para abraçar a tua sem querer saber de mais nada. Porque foste as minhas noites e tudo tempo demais. Mas, agora que não quero mais histórias de amor, que o eco das canções já não me traz os sorrisos patetas que perdi, que as noites já não me servem para sonhar contigo, acordar sem o teu nome nos meus ouvidos é a melhor melodia que posso ouvir, a vida à minha frente sem nós nem mais nada que me consuma o sorriso - e eu não vou parar de sorrir.

27.7.05

Não quero mais histórias de amor. Não quero mais planos de futuros facilitados, não quero mais mãos dadas à beira do pôr do sol - é o fim dos segredos, das lições, das canções na rádio que despertavam sorrisos patetas nos rostos que queriam ainda acreditar. Não quero mais nada que me traga o teu rosto, nem mais horas que lembrem as certezas que tivemos. Antes assim, antes o mar, a acidez dos abraços que não sei se vão chegar, as vozes desesperadas por gritar algo mais do que silêncio. O vazio das minhas mãos, agora que já não estás. Eu prefiro assim, prefiro o morno dos lábios ao ardor da paixão, o aparente gelo dos olhares ao calor que os peitos trazem, por dentro. Prefiro o respeito das arestas limadas à pressa à extrema solidez que era a minha cabeça nos teus ombros. Eu prefiro assim, antes os sorrisos ainda humedecidos e a ansiedade amarga das surpresas ao previsível dos finais felizes. E o teu rosto longe do meu como nunca antes.
Já não quero a tua voz, a distância percorrida dos risos, a mágoa acesa das almas quando têm quem amar - a descrença das faces marcadas quando a desilusão não perdoa mais um dia incendiado... Não quero mais histórias de amor.

12.7.05

As linhas do teu rosto eram a perfeição para mim. Era a dureza dos teus traços, combinada com a suavidade dos toques, que me fazia sentir segura como nunca. E agora, que o que resta do teu rosto se limita a uma fotografia, agora que já não se combina a tua firmeza com a minha fragilidade, que os teus dedos estão tão longe que não posso chegar a senti-los e o impacto do teu rosto se mantém, não sei que valor dar aos meus passos, nunca tão firmes como os teus, nunca tão certos como os davas, nunca sem a sombra em que me deixavas caminhar, quase a teu lado. Agora, que a magia das noites se perdeu e que a dos dias se começa a dissipar, não consigo saber, ao certo, que caminho seguir. Porque eu ainda me perco nos teus olhos, porque ainda me passa ao lado o tempo, sem ti, porque o fim demora e chega sempre cedo demais, porque desfizeste o pouco que tive nas horas que teimavam em não passar. Porque nós fomos muito mais do que as folhas soltas que restaram, porque tu ficaste em muito mais do que a minha alma, porque nunca soubeste ler as palavras que te atirava em silêncio e que diziam tudo. Porque até no meu rosto te trago e a tudo o que fomos sem querer.
Mas o tempo passa e, embora não cure tudo, vai secar as lágrimas que nunca caíram a seu devido tempo, vai apagar a música com que ainda nos ouço o tempo todo, vai levar-me a algum lado onde não me faça falta a tua mão para caminhar por um sítio qualquer. Porque foram muitas as vezes em que me desarmaste, sem saberes que tudo o que eu tinha eras tu e, apesar da perfeição que eram os teus traços, foi a nossa história que levou reticências, foi o nosso tempo que ficou parado e foi a melodia que era nossa que continuou a tocar nas noites em que, sem ti, a magia se perdeu.