31.3.05

E se o silêncio for a melhor forma de esquecimento?

19.3.05

Trago os dias cantados no peito que foi teu enquanto o livro que desfolho chega ao fim. A noite foi nossa, por vezes, por vezes amei-te os gestos como quem ama a luz que nos abre o caminho - porque tu eras a minha luz e eu não me conformo em perder-te. O mar, o céu, foram só pedaços da rapidez com que passámos pelo mundo e as estrelas para onde voámos a cada lua, o limite que ultrapassávamos sempre demais. Éramos nós, nós, e o mundo sem nós já não segue como antes, a vida sem nós é-me igual à inexistência. E ninguém pode perceber, nunca ninguém nos viu em tudo o que fomos connosco. Mas eu amei-te... amei-te os dias como se fossem os meus e os sorrisos como se eu não pudesse ser sem eles. Amei-te tudo e, afinal, a minha voz apagou-se com o nosso adeus.

13.3.05

dia da mulher...

Já vai atrasado mas, como dizem por aí, o que conta é a intenção. Seja uma intenção, então...

Nada mais contraditório do que "ser mulher"...
Mulher que pensa com o coração, age pela emoção e vence pelo amor.
Que vive milhões de emoções num só dia e transmite cada uma delas, num único olhar.
Que cobra de si a perfeição e vive arrumando desculpas para os erros, daqueles a quem ama.
Que hospeda no ventre outras almas, dá à luz e depois fica cega, diante da beleza dos filhos que gerou.
Que dá as asas, ensina a voar mas não quer ver partir os pássaros, mesmo sabendo que eles não lhe pertencem.
Que se enfeita toda e perfuma o leito, ainda que seu amor nem perceba mais tais detalhes.
Que como uma feiticeira transforma em luz e sorriso as dores que sente na alma, só pra ninguém notar.
E ainda tem que ser forte, pra dar os ombros para quem neles precisa chorar.
Feliz do homem que por um dia souber entender a alma da mulher!
*
(autor desconhecido)

1.3.05

Será

Será que ainda me resta tempo contigo,
ou já te levam balas de um qualquer inimigo
Será que soube dar-te tudo o que querias,
ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias
Será que fiz tudo que podia fazer,
ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer
Será que lá longe ainda o céu é azul,
ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul
Será que a tua pele ainda é macia,
ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia
será que ainda te posso valer,
ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer
Será que é de febre este fogo,
este grito cruel que da lebre faz lobo
Será que amanhã ainda existe para ti,
ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri
Será que lá fora os carros passam ainda,
ou as estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda
Será que a cidade ainda está como dantes
ou cantam fantasmas e bailam gigantes
Será que o sol se põe do lado do mar,
ou a luz que me agarra é sombra de luar
Será que as casas cantam e as pedras do chão,
ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão

Será que sabes que hoje é Domingo,
ou os dias não passam, são anjos caindo
Será que me consegues ouvir
ou é tempo que pedes quando tentas sorrir
Será que sabes que te trago na voz,
que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós
Será que te lembras da cor do olhar
quando juntos a noite não quer acabar
Será que sentes esta mão que te agarra
que te prende com a força do mar contra a barra
Será que consegues ouvir-me dizer
que te amo tanto quanto noutro dia qualquer

Eu sei que tu estarás sempre por mim
Não há noite sem dia, nem dia sem fim
Eu sei que me queres, e me amas também
me desejas agora como nunca ninguém
Não partas então, não me deixes sozinho
Vou beijar o teu chão e chorar o caminho...
*
Pedro Abrunhosa