6.5.08

Para ti, amor.

Hoje apetece-me escrever-te, amor. Apetece-me desenhar, letra por letra, o tanto que significas para mim. Contava-te tudo, se pudesse, mas ainda hoje as palavras não chegam - continuas a ser demais para o meu vocabulário, para qualquer poema, para qualquer verso de qualquer autor, porque nunca houve um amor assim. Costuma dizer-se que as coisas acontecem quando menos se espera. Tu aconteceste num dia de Verão, mesmo quando eu não esperava por ninguém, e o teu sorriso arrebatou-me a alma sem que eu pudesse (ou quisesse) evitar. Eu não te esperava, não esperava ninguém, muito menos alguém que conhecia há tanto tempo e que me mostrou, naquele Verão, uma parte de si que eu não sonhava existir em ninguém.
Lembro-me muitas vezes desse dia, do início de tudo, dos sorrisos que, de repente, me inundaram os dias, repletos de ti. Lembro-me do aperto no coração, do nó na garganta, das borboletas que me esvoaçavam no estômago sempre que se aproximava o momento em que ia ver-te. Começámos a namorar às escondidas, o que tornou tudo ainda mais interessante, o desejo de sentir os teus beijos era maior, de andar de mãos dadas contigo, de te abraçar sempre que não podia... Lembro-me dos olhares, os sinais que trocávamos sempre que havia alguém por perto e não nos podíamos tocar. E das desculpas que inventávamos para ficarmos só os dois. Lembro-me também, perfeitamente, de como adorei ir-te conhecendo, de como cada parte que ia descobrindo me fazia sorrir mais e mais, do modo como ficava surpreendida com a quantidade de coisas novas que aprendia contigo e sobre ti, aquele que eu já conhecia há tanto tempo - e tão mal! E guardo ainda os textos que te escrevi na altura, ao longo dos primeiros meses, os textos cujas palavras, pela primeira vez, não eram lamentos arrastados pelas folhas.
Hoje escrevo, essencialmente, a tua ausência, amor. Escrevo a falta que me fazes a cada dia, o vazio que deixaste nas horas livres que agora não sei como ocupar. Deixei de usar relógio, porque as horas já não interessam, o meu tempo passou a ser contado pelos dias, os dias que passam e os que faltam para voltar a ver-te. O tempo ganhou um sentido diferente, de tão devagar que anda quando não estás. Agora é a tua ausência que me marca os dias, amor, em vez do sorriso com que antes os iluminavas. Eu sinto-te a falta, sinto a saudade a apertar-me o peito sempre que penso em ti, sempre que uma fotografia me traz o teu rosto ou uma canção, o teu olhar. Estás longe, mas no meu coração o teu lugar mantém-se, o canto que ocupaste sem me pedires licença e que encheste com a tua voz. Estás longe, mas estás por todo o lado, meu querido - no ar que respiro, nas paredes do meu quarto, nos lençóis da minha cama, nos meus lábios, nos segredos que eles já te contaram ao ouvido... Hoje quis escrever-te e a cada contorno da tua pele, lembrar cada momento que já vivemos juntos, cada pedaço do teu ser que venero como nunca o tinha feito com ninguém. Sinto a tua falta tanto quanto te desejo, meu amor, a ti, com tudo o que és, com toda a luz que te sai do olhar, com cada ruga que se forma à volta dos teus olhos quando sorris - desejo-te, com a força de cem beijos à chuva, com cada poro da minha pele, com cada canto do meu peito que grita o teu nome. Mesmo a quilómetros de distância, o teu perfume mantém-se, o toque da tua pele, o teu calor, a maneira como a tua mão segura a minha quando passeamos ou como os teus dedos me afastam o cabelo do rosto, continua tudo tão perto como se nunca tivesses partido, meu amor... A urgência de te sentir, agora, é tanta que não consigo parar de te escrever, como se as palavras que nunca me chegaram deixassem as tuas mãos mais perto do meu rosto. Deixa-me só dizer-te mais uma coisa, amor... Eu consigo esperar por ti. Impossível é esquecer-te, impossível é não me morares no coração, é não ter o tempo todo o gosto da tua boca nos meus lábios, é não ansiar pelo momento em que volto a sentir-me inteira. Impossível, meu amor, é não te sonhar no futuro que espero para os dois, o futuro em que a tua presença vai ser tão real... que não vou poder sequer fingir que não te sinto.

(para ti, amor... porque vais sempre arder-me no peito.)