12.7.05

As linhas do teu rosto eram a perfeição para mim. Era a dureza dos teus traços, combinada com a suavidade dos toques, que me fazia sentir segura como nunca. E agora, que o que resta do teu rosto se limita a uma fotografia, agora que já não se combina a tua firmeza com a minha fragilidade, que os teus dedos estão tão longe que não posso chegar a senti-los e o impacto do teu rosto se mantém, não sei que valor dar aos meus passos, nunca tão firmes como os teus, nunca tão certos como os davas, nunca sem a sombra em que me deixavas caminhar, quase a teu lado. Agora, que a magia das noites se perdeu e que a dos dias se começa a dissipar, não consigo saber, ao certo, que caminho seguir. Porque eu ainda me perco nos teus olhos, porque ainda me passa ao lado o tempo, sem ti, porque o fim demora e chega sempre cedo demais, porque desfizeste o pouco que tive nas horas que teimavam em não passar. Porque nós fomos muito mais do que as folhas soltas que restaram, porque tu ficaste em muito mais do que a minha alma, porque nunca soubeste ler as palavras que te atirava em silêncio e que diziam tudo. Porque até no meu rosto te trago e a tudo o que fomos sem querer.
Mas o tempo passa e, embora não cure tudo, vai secar as lágrimas que nunca caíram a seu devido tempo, vai apagar a música com que ainda nos ouço o tempo todo, vai levar-me a algum lado onde não me faça falta a tua mão para caminhar por um sítio qualquer. Porque foram muitas as vezes em que me desarmaste, sem saberes que tudo o que eu tinha eras tu e, apesar da perfeição que eram os teus traços, foi a nossa história que levou reticências, foi o nosso tempo que ficou parado e foi a melodia que era nossa que continuou a tocar nas noites em que, sem ti, a magia se perdeu.

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