29.6.09

(Não me importa o que digam do estilo, eu preciso de te escrever... Vou contar-te uma história, amor.)
Chegaste com o vagar de outro dia qualquer, entraste de repente e arrebataste-me corpo e alma, gestos e olhar. Eu perdi-me por ti. Eras tudo - a luz que te saía do rosto, o modo como brilhavas com o olhar, a maneira como iluminavas os dias com o teu sorriso. Escrevi-te vezes e vezes sem conta, a ti e às canções que trazias no olhar, às tuas mãos no meu cabelo e depois na minha pele - eu só queria escrever-te, escrever a volta que me deste à vida, gritar ao Mundo as borboletas que me fazias sentir. Foste a revolução de uma vida, da minha, e era tudo o que importava para que o meu sorriso permanecesse. E o meu sorriso permanece, mas por mim.
Eu juro que não sei para onde foram as canções, amor, nem as borboletas, nem a tua luz. O aperto no peito que sinto é por me perderes. E eu juro que não queria perder-nos.Não sei o que fazer agora com tantas lembranças, amor. Porque elas continuam lá. Eu continuo contigo, por todo o lado. Como se a tua voz ainda me enchesse o peito. A verdade é que não sei ficar sem ti, porque nunca me imaginei sem nós. Mas os dias vão, os amores acabam, as canções calam-se e os segredos mudam. Deixas-me quase vazia, amor, e se não fossem as lembranças a nossa história seria um lugar comum. Nós fomos diferentes, sempre fomos melhores, superiores a tudo o resto, indiferentes porque o Mundo era o nosso chão e tínhamos a força de cem beijos à chuva. Os amores acabam, e eu juro que não sei o que fazer aos dias agora que tu já não brilhas neles. Não é por mal que te deixo, amor. E o que fomos sufoca-me um pouco de cada vez. Mas sem as canções eu não sei continuar. Perdeu-se o encanto. Perderam-se as palavras. Perderam-se os teus lábios nos meus e tudo o que saía deles para o meu peito. O teu olhar, a tua luz. Perdeste o meu riso por entre as tuas mãos e perderam-se os segredos, os teus dedos, os sorrisos, o luar. Menos a tua voz. Eu não sigo sem a tua voz. Não vou partir sem que me digas que a tua voz vai comigo. Eu não a quero de mais ninguém... Juro que não sei porquê, mas eu não a quero noutro peito.
Vou começar a dizer-te adeus, amor...
Vais sempre arder-me no peito.
Os meus dias foram teus. Apareceste com o vagar de outro dia qualquer, tocaste-me o rosto, duas palavras e tudo mudou. São para ti estas linhas que escrevo, amor. Dava tudo para não deixar de te escrever. Mas agora que as canções nos teus olhos silenciaram, resta-me pouco mais do que palavras perdidas no papel. Dava tudo para não deixar de te ouvir. Dizias-me tanto sem palavras, a noite caía e eu também no teu abraço, a cabeça no teu peito e a mão enroscada na tua, quando é que o tempo deixou de parar para nós? Tento escrever-te mas já não me sais do peito como antes, as palavras não costumavam chegar, perdeste-me e eu perdi-nos, como gostava de nos achar... Dava tudo para te reencontrar. Para que as palavras não chegassem. Para que voltasse a sair luz do teu rosto e canções do teu olhar. Para que as recordações não me apertassem o peito. Para voltarem os beijos à chuva... Para me fazeres voar. Já não sei o que dizer, amor. Perderam-se as palavras. Calaram-se as canções. E eu sei que, ainda assim, a tua ausência vai ser sentida como nenhuma outra, vou desejar para sempre as tuas mãos no meu rosto, a tua boca, o teu olhar. A tua luz, a tua voz. Dava tudo para não me esquecer de nós...
Quem me dera ter-te mandado mais um beijo, amor. Quem me dera os meus olhos ainda fixos nos teus, que o meu sorriso ainda te encontrasse, tocar-te mais, abraçar-te mais. Voltasse o tempo atrás e eu não perdia um instante. Tenho o rosto traçado pela falta que fazes, sombreias as palavras que vou escrevendo como se elas te levassem um pouco. Vou debitando, um a um, cada pedaço das minhas recordações de ti, cada traço que ficou do teu sorriso, cada gesto que nos fez como fomos. E a verdade, meu querido, é que mesmo sem querer esquecer-te, porque te trouxe no peito a cada momento, há (grandes) pormenores que começam a ser difíceis de recordar. Quem me dera ter-te guardado só por mais um instante, ter-te gravado só mais uma linha do rosto, mais um tom da voz, quem me dera ter-te apertado com mais força contra o peito, só mais uma vez. Agora que não te tenho, amor, nada em nós foi suficiente. Os dias foram curtos demais e as noites nem chegaram para ficares nos meus braços, para eu saber o teu abraço, para ainda estar no teu colo a decorar segredos. Quem me dera ainda saber o teu beijo, mas o tempo não me chegou para decorar o gosto dos teus lábios contra os meus.
Foram tantos os instantes, mas eu dava tudo por outro segundo a segurar a tua mão, a cravar os dedos nos teus, a desfiar sonhos contigo. Dava tudo por um último pôr-do-sol, por mais um nascer da Lua, para ouvir o teu riso mais uma vez e poder decorá-lo, porque sabia que seria a última. Nada é suficiente agora que não estás, amor - e se eu soubesse... eu teria ficado acordada mais uma vez, só mais uma vez, a decorar o teu rosto, para o ter agora mais perto do meu.