5.4.08

Há dias em que ninguém nos vê a alma. O desalento aterra-nos nas mãos e não nos queremos mostrar a ninguém. Está tudo lá, tudo estampado no olhar, com a transparência quase urgente de quem quer pedir ajuda, e ninguém nos lê por dentro. É quase como ter o poema perfeito e não ter uma caneta à mão. Como ter o infinito à frente e não ter coragem para saltar. Há dias em que ninguém nos vê a alma. É como lançar os dados dez vezes seguidas e nunca nos sair seis. A correlação incompleta, a associação directa imperfeita - a relação quase linear entre o que nos bate no peito e o que nos corre no olhar. Podia ser perfeito, podia ser matemático - mas não é. Está tudo lá, tudo estampado no olhar, a letra das canções em sintonia com o desenho do rosto, o vagar dos dias, o pesar das noites. Ainda assim, ninguém nos desvenda a vontade (ter o Mundo aos nossos pés nunca foi suficiente). Quase que vivo, quase que dói. Quase.
Quem me dera, às vezes, que me vissem a alma. Quem sabe se assim, por uma vez, os dados não paravam no seis.

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