23.4.08

Às vezes o mais difícil é começar. A deixar-te o rosto, a perder o teu rosto. Sinto-me agora mais só do que nunca. O vazio no meu peito é tão grande que quase consigo ouvir o eco da solidão que carrego comigo - ninguém é tão só como eu. São dias longos, estes que me varrem a alma e a deixam tão pequena que eu quase não caibo nela. Mais uma vez, as lágrimas correm-me o peito sem que alguém as veja, sem que alguém note que eu não estou por trás do olhar que carrego, e eu não percebo porque ninguém me vê chorar. Devia haver um aparelho para medir a dor, qualquer coisa que, a certo momento, dissesse: "Esta pessoa atingiu os seus limites de dor e, se ninguém a ajudar, em breve ela não vai conseguir manter-se viva.". Porque, certamente, a dor tem os seus limites - e, certamente, ninguém pode viver com tanta dor. E a minha é a maior de todas, a minha solidão é a mais imensa - porque mais ninguém é igual a mim. É mais do que uma dor, é angústia, uma angústia que me corre nas veias e que me percorre o corpo. Sinto-a nas pontas dos dedos e tento passá-la para o papel, mas é-me impossível fazê-lo - não há, no mundo inteiro, palavras que cheguem para a minha dor, e eu só espero que a noite venha e me adormeça outra vez. Não há dia cinzento tão pesado como o meu coração, nem cemitério tão vazio como o meu peito. Não há, sequer, melodia tão triste como os meus olhos.

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